O primeiro Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) em Canoas foi aberto nesta quinta-feira (04), próximo à passarela da Refap, no bairro São Luís. A estrutura, batizada de Recomeço, possui um amplo complexo de 30 mil metros quadrados e conta com 126 unidades habitacionais provisórias. A capacidade é de acolher 630 pessoas atingidas pela enchente de maio que estão assistidas em abrigos municipais.
O CHA Recomeço conta com as casas provisórias, de 17 metros quadrados cada, doadas pela Agência da ONU para Refugiados (Acnur), montadas em tempo recorde pelo Exército Brasileiro. As obras de preparação do terreno, com instalações hidrossanitárias pela Prefeitura de Canoas e outras intervenções no terreno da antiga Indústrias Micheletto, começaram em 4 de junho. A montagem das peças dos abrigos começou no dia 17 de junho. Cada unidade pode receber até cinco pessoas e estão equipadas com beliches, cama de casal e berços, de acordo com a realidade de cada família.
O governador Eduardo Leite destacou os principais passos para garantir assistência ao povo gaúcho atingido pela catástrofe climática. “O primeiro passo, resgatar; o segundo, abrigar imediatamente ainda que não nas condições ideais; e o terceiro é buscar a melhor dignidade, mais carinho, mais atenção, mais estrutura, para que estejam em melhores condições. Nós vamos perseguir cada um dos passos até que tenhamos as casas definitivas, como cada uma das famílias merece”, disse.
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge, ressaltou todo o esforço do Poder Público e dos voluntários, desde a madrugada de 4 de maio, quando a cidade e o Estado foram assolados pela catástrofe climática histórica. “Todos nós, desde lá, estamos empenhados em um conjunto de tarefas. Foram 66 mil pedidos de socorro. Foi um trabalho de milhares de voluntários, pessoas humildes, que, às vezes, pegaram bote, organizaram algo para salvar vidas. Se não fosse eles, essa tragédia já seria muito maior”, disse. Após o resgate, o empenho esteve voltado na abertura de abrigos municipais para assistir as quase 24 mil pessoas desabrigadas em conjunto com diferentes entidades. Ao todo, 97 espaços institucionais foram organizados em tempo recorde.
Responsável pelas ações de construção do centro, o vice-governador Gabriel Souza fez um agradecimento aos parceiros que contribuíram com doações de equipamentos e serviços para que o CHA Recomeço se tornasse realidade. “Dignidade é a palavra que nos moveu na construção do espaço em apenas 30 dias. Estruturas como esta costumam levar meses para ficarem prontas, mas, graças ao apoio de muitas mãos, estamos abrindo o centro com rapidez para receber famílias que dormiam em ginásios. Nosso objetivo é não ter mais nenhuma pessoa vivendo em lugares sem as devidas condições”, disse Gabriel Souza.
Triagem e entrada das famílias
No Centro Recomeço, as famílias entrarão de maneira gradativa, já a partir desta quinta-feira. Os primeiros 300 acolhidos, que também irão incluir mães solo e homens solteiros, chegarão até o dia 10. Sua lotação total, com 630 pessoas, deve estar completa até o final deste mês. Esse processo gradativo permite um acolhimento mais próximo e atentivo da população.
De quais abrigos são as primeiras famílias
As famílias dessa etapa estavam abrigadas na Ulbra, no Clube Fênix e no Sesi Cachoeirinha.
Estrutura do CHA
Banheiros: 28 contêineres, que incluem sanitários e chuveiros.
Sanitários: 76 sanitários comuns, entre feminino e masculino, e 15 sanitários para pessoas com deficiência (PCD)
Chuveiros: 48 chuveiros comuns e 6 chuveiros para PCD
Obs.: a OIM recomenda um banheiro a cada 20 pessoas. No Centro Recomeço, essa média cai para sete.
Montagem das unidades: os militares da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, de Ponta Grossa (PR) fizeram a montagem das 126 casas modulares. A ação também contou com cerca de 50 militares do 5º Batalhão Logístico, de Curitiba, capital paranaense.
Lavanderia coletiva: oito máquinas de lavar e oito máquinas de secar estão disponíveis. As máquinas foram doadas pela Whirlpool Corporation e poderão ser utilizadas pelas famílias, que terão também um espaço para estender as roupas.
Refeitório: a alimentação será fornecida por uma empresa contratada pela OIM. Serão oferecidas três refeições por dia: café da manhã, almoço e jantar. O refeitório tem capacidade para 450 pessoas.
Berçário e fraldário: terá uma sala equipada com berços, cadeiras de amamentação, geladeiras, torneiras de água quente, bebedouros, microondas para esquentar a mamadeira. Também terá espaço de trocador para as mães.
Segurança: o Centro contará com um posto da Brigada Militar 24 h. A Secretaria Municipal de Segurança Pública de Canoas, será responsável pela vigilância privada por meio das câmeras do circuito interno de monitoramento, conectadas ao Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). Em conjunto com os demais órgãos públicos de segurança, dispõem do serviço da Guarda Municipal (GM) para resposta imediata às demandas de emergência pelo telefone 153.
Transporte: de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade de Canoas, a linha de ônibus Morart atenderá o CHA Recomeço, no bairro São Luís. Em Canoas, o passe livre nas linhas municipais permanece em vigor.
Posto Médico: terá dois consultórios, uma sala de atendimento e uma sala de recuperação. Os atendimentos serão feitos por equipes da Secretaria Municipal de Saúde de Canoas, junto com a Secretaria Estadual da Saúde e com a Secretaria de Assistência Social.
Espaço Kids: oferece uma variedade de brinquedos e serviços para crianças, com mini móveis e brinquedos educacionais. Há cabanas, almofadas, tapetes, mantas, livros e materiais escolares.
Os serviços oferecidos incluem acompanhamento psicopedagógico especializado, apoio de psicólogos para lidar com estresse pós-traumático e acompanhamento de pediatras especializados em desenvolvimento infantil. Tudo foi projetado para promover a interação harmoniosa e educativa das crianças, estimulando seu desenvolvimento cognitivo e motor.
Espaço Multiuso: o local será equipado com TV e cadeiras para oferecer aos acolhidos um espaço de entretenimento.
Espaço para pets: ponto de apoio para que as famílias deixem os seus animais de estimação à noite e quando estiverem fora do Centro. Seguindo orientações técnicas, o local tem divisórias de madeira e uma área ao livre, com cercamento, para que os animais possam brincar e passear com os seus tutores durante o dia.
Como será a gestão do CHA
A Agência da ONU para as Migrações (OIM) é uma das principais organizações internacionais na prevenção, na mitigação e na resposta ao deslocamento por desastres e foi contratada para ser a gestora dos Centros Humanitários de Acolhimento em Canoas e Porto Alegre. O objetivo é garantir que as pessoas tenham acesso à assistência e se abrigar em locais seguros, dignos e com instalações apropriadas enquanto necessário.
Nos centros, a equipe da OIM será responsável por ações como monitoramento de serviços, garantia de alimentação, atividades de saúde mental e estabelecimento de regras de convivência. Para promover a autonomia e a independência das pessoas, a participação da comunidade nas atividades de gestão do espaço também será estimulada, como na criação de comitês comunitários para a distribuição dos itens de uso pessoal e da manutenção do espaço. Para a gestão dos três CHAs, a OIM contará com uma equipe de cerca de 250 profissionais.
Os envolvidos
– Governo do Estado: responsável pelo planejamento e pela coordenação do projeto, por meio do Gabinete do Vice-Governador.
– Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac: financiou a contratação da empresa responsável pelo fornecimento, instalação e manutenção das estruturas provisórias complementares para espaços como fraldário/lactário, refeitório, lavanderia, espaço para crianças, multiuso e para animais. Além disso, custeou a contratação da gestora do Centro, que será a Agência da ONU para as Migrações – OIM.
– Prefeitura de Canoas: responsável pelas instalações hidrossanitárias e distribuição de pontos de luz para os ambientes externos e vai auxiliar na prestação de serviços médicos às pessoas acolhidas.
– Agência da ONU para Refugiados (Acnur): doou ao Estado 208 Unidades Habitacionais de Emergência (Relief Housing Units), das quais 126 casas foram montadas no Centro Recomeço.
– Exército Brasileiro: apoio para a montagem das unidades habitacionais doadas pela Acnur.
– Agência da ONU para as Migrações (OIM): fará a gestão do Centro.
– Empresas e organizações: as empresas Oi S.A., Whirlpool Corporation e Cordeiro Kids e a organização nacional de voluntariado Movimento União BR doaram serviços de internet, eletrodomésticos como máquinas de lavar e secar, estruturas com banheiros e artigos para o espaço das crianças.
Texto: Fábio Radke
Edição: Escritório de Comunicação