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Quilombolas e imigrantes acolhidos pela Prefeitura realizam curso profissional na Pecan

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Foto: Gustavo Garbini
A receita é básica, com poucos ingredientes, mas o resultado é garantido. Mistura trabalho prisional com vontade de aprender e do forno sai, quentinha, uma nova fonte de renda para quilombolas e imigrantes assistidos pela Prefeitura de Canoas.
Por meio de parceria com o Complexo Penitenciário de Canoas (Pecan), representantes dessas comunidades que vivem na cidade estão recebendo, dentro do estabelecimento prisional, aulas de panificação e confeitaria com apenados que já são padeiros formados, com foco no empreendedorismo.
De acordo com a secretária municipal adjunta de Igualdade Racial e Imigrantes, Ednéa Paim, o principal objetivo é capacitar os moradores da Terra Quilombola Chácara das Rosas, localizada em uma área de cerca de 3.600 metros quadrados no bairro Marechal Rondon, próximo ao Canoas ParkShoppinhg.
No local, certificado desde 2006 pela Fundação Palmares como Comunidade Remanescente de Quilombo, residem cerca de 20 famílias que, há mais de um ano, contam com uma padaria totalmente equipada em seu espaço, fruto de doação, porém sem funcionamento por falta de capacitação profissional.

Pães, bolos e salgados
A turma conta atualmente com 15 vagas e recebe também alunas venezuelanas, integrantes da comunidade de cerca de 5 mil imigrantes em Canoas (incluindo também haitianos) e cadastrados pela secretaria para inserção em políticas públicas de desenvolvimento social. Os insumos são doados pelo Banco de Alimentos do município e já se transformam nos diversos produtos típicos encontrados nas padarias: pães de todos os tamanhos, bolos, folhados, salgadinhos de festa, quiches, tortas e muito mais.
As aulas começaram no início de outubro e ocorrem duas vezes por semana, incluindo teóricas e práticas com dois apenados formados pelo Senac dentro da Pecan, além de lições de língua portuguesa com uma professora voluntária da rede municipal de ensino. “É um projeto que marca uma nova história, um novo começo, uma nova oportunidade para pessoas que necessitam urgentemente de uma fonte de renda para que possam se emancipar; é um conhecimento que deverá se multiplicar e impactar cada vez mais membros dessas comunidades”, afirma a secretária, que, após esgotar as possibilidades de busca por parceiros, recebeu sinal positivo da Pecan para a realização do curso de panificação e confeitaria dentro da própria penitenciária.
Pioneirismo da Prefeitura de Canoas
A instituição, referência em trabalho prisional para o regime fechado, dispõe de uma padaria com os mesmos equipamentos doados ao quilombo – bancada de inox, masseira, batedeira, cilindro, forno e fogão industriais. “Essa é a primeira vez, em todo o Estado, que pessoas de fora do regime prisional entram em uma penitenciária para receber uma capacitação profissional com apenados”, destaca o titular da secretaria a qual a pasta da Igualdade Racial e Imigrantes está vinculada, o secretário municipal de Governança e Enfrentamento à Pandemia, Paulo Bogado.

Dos 2.200 detentos da Pecan, 1.200 exercem atividade laboral, sendo 214 empregados assalariados nas 13 empresas presentes na casa prisional. Os outros atuam em serviços de manutenção e limpeza. O resultado desses esforços pode ser visto através do índice de reincidência criminal dos egressos da penitenciária, que é de apenas 13%.
Pioneira entre os 497 municípios gaúchos, a Prefeitura de Canoas foi a primeira do Rio Grande do Sul a celebrar convênio com Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), em março deste ano, para a utilização do trabalho de apenados para a confecção de camisetas escolares e serviços de lavanderia. O próximo serviço contratualizado deverá ser a confecção de fraldas pelos detentos para distribuição aos hospitais.